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Arquitetos: depA architects
- Área: 316 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:José Campos
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Fabricantes: Azulmarmol, Castro Wood Floors, Marmocim, Sanitana, W7
Descrição enviada pela equipe de projeto. O edifício nº 39-41 da Travessa de São Sebastião encontrava-se devoluto e num profundo estado de degradação. Com três pisos, de perímetro poligonal irregular e desenvolvimento torcido em relação ao arruamento, o prédio abrigara em tempos um restaurante no rés-do-chão e várias habitações dispostas pelos vários pisos e no logradouro, em construção tipo “ilha”. O novo proprietário pretendia re-inventar os seus espaços e convertê-lo num pequeno hotel.
A estratégia de projecto partiu da intenção de cristalizar o “osso” do edifício em conjunto com os seus elementos existentes originais e caracterizadores, e simultaneamente introduzir momentos de transformação harmoniosos no conjunto. Desta forma é repetida a matriz tipológica existente, típica nos conjuntos históricos do Porto e racional na distribuição de espaços com contacto com o exterior através do esquema compositivo de escadaria centralizada e iluminada zenitalmente por clarabóia com forma cónica, projeção dos espaços habitáveis no contacto com as fachadas e dos espaços complementares no miolo.
Assim, contribuindo para a manutenção da memória identitária do edifício e do conjunto urbano que este integra, o alçado frontal foi mantido e tratado por forma a descobrir a cantaria original que cinge os vãos exteriores. As guardas originais foram tratadas e repostas e as janelas substituídas por novas janelas de madeira com desenho próximo do tradicional. Junto à entrada, que se faz a partir da Travessa de São Sebastião, localiza-se a recepção do estabelecimento apoiada por um pequeno arrumo cuja composição se prolonga na definição dos restantes espaços de serviço (instalação sanitária e cozinha), interrompidos a meio pelo espaço de escadaria central colocada num espaço de pé-direito triplo que traspassa todos os pisos e permite que o miolo do edifício viva da luz da nova clarabóia.
O alinhamento dos espaços encerrados no rés-do-chão é dado pelo prolongamento em volume anexo existente no logradouro e marcado por uma grande viga em madeira, existente, re-localizada e integrada na composição actual. O restante espaço é aberto em open space e dividido em duas áreas distintas, uma de recepção, junto da entrada, e uma área de pequenos almoços junto do tardoz.
O portal de pedra existente no alçado tardoz no rés-do-chão foi mantido como enquadramento na ligação do corpo principal ao logradouro. O anexo existente, com ligação ao corpo principal no rés-do-chão, integra agora um jardim de inverno que prolonga as áreas sociais do edifício e amplia a sua relação com o espaço de estar/jardim criado no logradouro. Nos pisos superiores distribuem-se 8 quartos duplos em grupos de 2, todos eles semelhantes e com casa de banho privativa, cada grupo voltado para um dos alçados.
Por impossibilidade de manutenção do alçado tardoz existente neste pisos, este foi reconstruído mantendo contudo a lógica compositiva característica dos edifícios históricos, quer na proporção dos vãos além nos quais se apoiam novas varandas, como na definição material da fachada com marcação mimética em diferente textura de acabamento de uma cantaria que se agarra ao elemento de guarda metálica.
Construtivamente, o edifício encontra uma harmonia entre o uso de materiais tradicionais e elementos pré-existentes tal como a madeira e a pedra, com métodos construtivos contemporâneos. Alguns materiais e elementos de interesse provenientes da demolição foram re-aproveitados fazendo parte da nova composição tal como as grandes vigas de madeira existentes no rés-do-chão, ou os arranjos dos espaços exteriores.